TREINAMENTO DE FORÇA APLICADO À CATEGORIA DE BASE
DO SUB-13 AO SUB-20
Profº - Douglas Saretti
Cref nº 056144-G/SP
RESUMO:
Abordar o assunto “treinamento de força” no futebol, requer muito estudo e um olhar multilateral em termos de metodologia, periodização, maturação biológica e desenvolvimento motor e fisiológico. A definição de força está diretamente ligada a forma de como ela (força ) se manifesta durante o jogo.
O presente estudo tem como objetivo colocar em uma sequência metodológica o trabalho de força desenvolvido em esportes coletivos, especificamente no futebol, onde entendemos que a contribuição do trabalho de força, principalmente nas ações decisivas da modalidade, se faz de suma importância, porém é extremamente necessária uma análise da metodologia aplicada nas diferentes categorias, bem como, respeitar as diferentes faixas etárias, fases sensíveis e do desenvolvimento esportivo.
Através desse estudo pudemos observar que vários são os fatores que interferem no planejamento e desenvolvimento do trabalho, por isso não há um consenso em relação a metodologia,tipos de periodização e exercícios, o que deve ocorrer de maneira efetiva é a integração entre os responsáveis pela preparação física de cada categoria a fim de otimizar os ganhos em relação ao desenvolvimento fisiológico e motor do atleta, evitando assim a especialização precoce em atletas nas categorias de base, promovendo atletas com perfil fisiológico condizente com a categoria.
INTRODUÇÃO
O futebol se caracteriza como uma atividade física intermitente, cuja especificidade solicita fontes energéticas variadas; isso por alternar corridas de altas e médias intensidades, com períodos de recuperação dos esforços intensos (REILLEY, 1990; BANGSBO, 1994), é um jogo no qual as demandas fisiológicas são multifatoriais e variam durante a partida.
Alguns autores ressaltam a distancia percorrida durante uma partida de futebol, porém o que realmente faz a diferença e interfere diretamente no desempenho é o quanto dessa distancia é percorrida em alta intensidade. A distância média percorrida por jogo, apontado na maioria dos estudos fica em torno de 10 km (AOKI, 2002). Porém, a forma percorrida é importante de se destacar. A maior parte do jogo é gasta com as ações andar e trotar (83%-88%), um tempo menor com as corridas aceleradas e velozes (7%-10%), e um tempo mínimo em posição estática (4%-10%) (WEINECK, 2000).
Em se tratando o futebol de um desporto de característica intermitente de alta intensidade, podemos observar a manifestação da força em vários aspectos, como, acelerações e desacelerações, dribles, saltos, disputas de bola, marcação, finalização, dentre outras.
O desempenho funcional da rápida mudança de direção parece ser uma característica necessária para se jogar futebol. Qualquer mudança de direção durante a corrida é causada por um impulso externo a partir do solo.quanto mais rápida a mudança de direção em uma atividade de alta velocidade,maior será a força aplicada em menos tempo de contato com o solo.(NUNES,2004).
Encontramos na literatura que a relação entre força muscular e desempenho em exercícios de alta velocidade é extremamente limitada em jogadores de futebol. Assim, para que seja potencializado o desempenho físico em futebolistas tem sido buscadas informações sobre as mudanças ocorridas nas manifestações da força explosiva apos o treino de preparação para a competição, pois o treinamento da força explosiva melhora os fatores limitantes do desempenho da agilidade e velocidade pra jogadores de futebol na produção da força (KRAEMER; HAKIKINEN, 2004)
DEFINIÇÃO
Uma definição precisa de “força” que inclua tanto aspecto físico quanto psíquico é muito difícil, em comparação a sua definição puramente física, pois os tipos e característica dos trabalhos de força são influenciados por vários outros fatores. Uma definição de força só será dada levando em consideração as formas de força manifestada no futebol, bem como a performance de jogo.(WEINECK, 2000)
CAPACIDADE MOTORA
% CARGA
REPETIÇÕES
INTERVALO
VELOCIDADE
NÚMERO DE
SÉRIES
Força
90-100 %
1 - 6
>2 min.
Lenta
4 - 6
Hipertrofia
70 – 90 %
6 – 8
3 min.
Lenta
3 - 6
Força Explosiva
60 – 80%
6 - 12
> 2 min.
Rápida
3 - 6
Resistência Muscular
40 – 60%
13-20
1 –2 min.
Média
2 – 4
TIPOS DE FORÇA
Os tipos de força é uma questão há tempos bem discutida e até hoje gera muita discussão quanto ao tipo predominante no jogo de futebol. É extremamente importante que essa discussão ainda persista por muito tempo, é claro que cada vez mais, elevando o conhecimento técnico e científico para alcançarmos a excelência na preparação de nossas equipes e na formação do atleta.
Os fatores que modificam a força são:-neurais;-musculares;-biomecânicos;-psicológicos.(GUEDES, 2003)                                             FATORES NEURAIS:
Coordenação intermuscular, melhoria na relação agonista-antagonista (co-contração), melhoria na relação agonista-sinergistas e coordenação intramuscular. A coordenação intramuscular relaciona-se ao aumento do número de unidades motoras recrutadas, tamanho das unidades.
Motoras recrutadas (princípio do tamanho) e freqüência de contração de cada unidade motora. Os fatores neurais são os principais responsáveis pelo aumento da força nas primeiras semanas de treinamento com pesos (Fleck e Kraemer, 1997).
FATORES MUSCULARES:
Sobrecarga tensional causa a hipertrofia mio fibrilar devido ao aumento do conteúdo de proteínas contrateis nas mio fibrilas, que proporciona o aumento no número e tamanho das mio fibrilas. Isso ocorre principalmente graças ao treinamento com cargas elevadas. Sobrecarga metabólica que causa a hipertrofia sarcoplasmática (aumento de creatina fosfato, glicogênio e água que ocorre graças ao tempo prolongado de contração), o que sugere repetições elevadas e/ou intervalos curtos. Então a hipertrofia máxima será atingida quando se equilibrar peso elevado, repetições altas e intervalos curtos a fim de proporcionar simultaneamente ou alternadamente dentro do processo de periodização do treinamento a sobrecarga tensional emetabólica. Para isso a carga de treinamento apresenta as seguintes características:- 60% a 85% da contração máxima; (Guedes, 1997)
FATORES BIOMECÂNICOS:
Não só a força muscular, mas também o seu ponto de aplicação interfere na capacidade de vencer a resistência. Esse conceito é definido como Momento ou Torque, que é a capacidade de forças girarem um sistema de alavancas ao redor do ponto fixo (eixo), onde T=F x d (T=torque, F=força e d=braço de alavanca). (Enoka, 2000)
FATORES PSICOLÓGICOS:
Relaciona-se a uma força latente, denominada reserva de proteção, que seria mobilizada de forma involuntária, como por exemplo, em situações de perigo (Força Absoluta). (GUEDES, 2003)
FORÇA RÁPIDA:
Velocidade X Força máxima
Segundo Weineck, (2000) é o fator de força mais importante e apontado durante o jogo, se manifesta especificamente na forma de:
Aceleração: (Força dinâmica positiva= força concêntrica):
Frenagem: (Força dinâmica negativa= força excêntrica):
Exemplos em: Acelerações – saltos e finalizações
Frenagens – paradas abruptas mudança de direção, disputas de bola, fase inicial de corrida e saltos e ações técnicas isoladas.
Não dá para não mencionar a estreita relação entre força rápida e força máxima, já que este ultimo representa o componente mais importante para a força rápida.
A força rápida é produzida por uma contração do tipo alongamento – encurtamento, na qual o músculo extensor adquire uma ótima firmeza, aumentando a tensão no tendão. Esses resultados acontecem numa fase excêntrica e mais eficaz, durante o alongamento do músculo as atividades de reflexo proporcionam a maior ativação possível durante uma contração voluntária , novamente aumentando a tensão no tendão, produzindo assim uma impulsão potente.(BOMPA,2004)
È extremamente importante que o planejamento e execução do trabalho seja feita com extremo controle e monitoramento, pois o excesso de sobrecarga, bem como a falta de aquecimento específico, dentre outros fatores pode aumentar o risco de lesões.
O treinamento pliométrico representa o método mais disseminado e significativo
no setor de força rápida. (WEINECK,2000)
Segundo Weineck (2000), esse método de treinamento, corresponde a um trabalho dinâmico em que a porção dinâmica negativa é associada à outra porção dinâmica positiva explosiva (repulsão imediata à frente ou para cima), fisiologicamente, utilizam-se os momentos de reflexos de estiramento e dos componentes elásticos do músculo.
Indicações gerais para a realização de treinamentos pilométrico (WEINECK,2000)
Realizações explosivas de movimento;
Seis a dez repetições;
Iniciantes, duas a três séries;
Avançados, três a cinco séries, esportistas de alto nível, seis a dez séries;
Pausa entre as séries igual a 2 minutos;
Realização só em estado de ausência completa de fadiga e bem aquecido.
FORÇA MÁXIMA:
Segundo Weineck (2000), na maioria das vezes essa força é subestimada em relação aos métodos e aos critérios para sua formação e seu uso por meios de exercícios
O desenvolvimento da força máxima na categoria sub-15, exige cautela, pois a carga de treinamento inicial tem que ser subestimada e seu aumento gradativo, podemos utilizar nessa categoria bem coma nas categorias subseqüentes abaixo a escala de percepção subjetiva de esforço de Raso (2002), (tabela 2).
Tem-se que priorizar o gesto motor em exercícios de peso livre e ou utilizar o peso do próprio corpo, basicamente as sessões de treino devem conter na sua maioria exercícios básicos e balísticos. (RHEA, 2009)
Embora a força máxima estática no jogo pareça ser sem significado, pois a mesma não ocorre em sua forma pura de jogo. Devemos dar a devida importância ao treinamento e aprimoramento deste tipo de força pela estreita correlação com as forças dinâmicas positiva e negativa.
A força máxima é dependente dos seguintes fatores:
Porção muscular existente;
Da coordenação intermuscular (coordenação entre os músculos que trabalham em conjunto em determinado movimento).
Da coordenação intramuscular (coordenação dentro do músculo).
Por meio desses três componentes, pode-se alcançar um desenvolvimento da força máxima.
(WEINECK, 2000)
RESISTÊNCIA DE FORÇA:
Para o desenvolvimento da resistência de força não se utiliza os mesmos métodos empregados na formação e desenvolvimento da força máxima e rápida, pois a constituição da musculatura envolvida (abdominal e dorsal) é diferentes, formadas por fibras de contração lenta que requer movimentos lentos e altas repetições. (WEINECK, 2000)
A Preparação Especial de Força (PEF) é parte integrante do processo de treinamento para qualquer modalidade esportiva (Verkoshanski, 1995)
0
Muito, muito leve
1
2
Muito leve
3
4
Leve
5
6
Um pouco pesado
7
8
Pesado
9
Muito pesado
10
Muito, muito pesado
(Tabela 2) Escala de RASO para a percepção subjetiva de esforço em exercícios com pesos
TREINAMENTO DAS CAPACIDADES DE FORÇA:
No processo de treinamento das capacidades de força, utilizam-se numerosos exercícios e muitas variações bem como os métodos utilizados, a execução desses exercícios requer uma tensão elevada da musculatura envolvida no trabalho de força. O principal fator que estimula essa tensão é a grandeza da carga.
Segundo as particularidades da carga, os exercícios se dividem em: (RHEA, 2009)
Exercícios com a carga externa;
Exercícios com o próprio peso corporal
O que se deve levar em consideração é a escolha dos exercícios que compõe a sessão de treinamento, que nesse caso preferencialmente terão que respeitar a faixa etária.
O que utilizar então na categoria sub-15?
Segundo Krammer (1997) o mais indicado é utilizar uma escala de progressão gradativa respeitando as fases do desenvolvimento esportivo que começa com a iniciação ao trabalho de força no sub-13 com exercícios com o peso do próprio corpo e ir progredindo gradativamente com a inclusão de exercícios com peso livre e variações dos métodos e exercícios.
CRITÉRIOS PARA PERIODIZAÇÃO:
As mudanças hormonais são responsáveis, em parte, pelo aumento da força dos 11 aos 18 anos em ambos os gêneros. Adolescentes podem aumentar a produção de força e hipertrofia muscular de uma maneira acentuada com o treinamento de força em comparação a elevação natural decorrente do crescimento. A explicação é o aumento das concentrações sanguíneas de hormônios anabólicos que ocorrem principalmente durante a puberdade, além do aumento desses hormônios em virtude do treinamento de força (FLECK e KRAEMER, 2006).
Um dos critérios mais importantes para o planejamento e confecção da periodização anual do grupo de trabalho, é o objetivo a ser alcançado. Isso porque os objetivos variam de acordo com o clube (filosofia de trabalho), categoria trabalhada (fases sensíveis e desenvolvimento esportivo) tabela 1, e calendário esportivo. Vale a pena ressaltar que o objetivo dos profissionais envolvidos no processo de formação do jogador de futebol é o desenvolvimento de um trabalho de ganhos progressivos em termos de capacidades biomotoras e suas interdependências, bem como, no desenvolvimento fisiológico e motor dentro do que a modalidade exige.
Sub 13/14- INICIAÇÃO- FORMAÇÃO- ESPECIALIZAÇÃO -ALTO RENDIMENTO

INICIAÇÃO
Iniciação ao trabalho de força.
Introdução a exercícios específicos de força.
Priorizando pesos livres e do próprio corpo.

SUB 15

FORMAÇÃO
Iniciação ao trabalho de força
Carga subestimada
Variabilidade de exercícios e metodologia de treinamento

SUB 17

ESPECIALIZAÇÃO
Potencialização do trabalho de força.
Teste de 1Rm.
Exercícios de levantamento básico.
Periodização de acordo com o calendário esportivo

SUB 20
Periodização de acordo com o calendário esportivo

Tabela 1 - Fases do desenvolvimento esportivo
PERIODIZAÇÃO NO TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA FORÇA:
Em relação o treinamento de força os modelos mais utilizados são:
Periodização linear e não linear;
Para o treinamento da força qual o modelo de periodização mais eficiente?
A periodização linear é o modelo mais tradicional utilizado no treinamento. Este tipo de metodologia refere-se à prática de aumentar continuamente o nível de exigência sobre o músculo à medida que ele se torna capaz de produzir mais força ou tenha mais resistência seja através do aumento do volume ou da intensidade (Rhea et a, 2003). No entanto, encontramos com maior freqüência um aumento progressivo da intensidade com redução de volume. Stone (1982) propõe a seguinte progressão de carga para o esporte:----------------------------------2ª FEIRA--------------4ª FEIRA
-----------6ª FEIRA
Repetições-Intensidade---------            8-10 RM3------------- 5 RM12------------15 RM
Séries ------------------------------        3-4---------------------4-5----------------3- 4

PAUSA--------------------------------    2 Minutos---------------3-4 Minutos------3- 4 Minutos
A periodização não-linear ou ondulatória é caracterizada pelo trabalho misto que engloba exercícios para o desenvolvimento simultâneo da hipertrofia, resistência muscular e força máxima (Kraemer et al, 2000). A periodização ondulatória se caracteriza pela variação do volume e intensidade durante todo o período do treino. As fases do treinamento são muito mais curtas ocasionando maior variação de estímulos para a musculatura. Isso pode ser extremamente vantajoso quando se objetiva o ganho de força. Kraemer et al (2000) propõe a seguinte variação de carga na semana.
PERIODIZAÇÃO ONDULATÕRIA OU NÃO LINEAR
-----------------------------------SEGUNDA-------TERÇA-------QUARTA------------QUINTA---------------SEXTA
TREINO                                               A                                          B                               A                             B

Microciclo 1 -----------------------------3 X12-15RM------------ X -------------- ------------------------ 3 X 8-10RM
Microciclo 2-----------------------------4 X 4-5RM-------------- X-----------------------------------------3 X12-15RM
Microciclo 3-----------------------------3 X 8-10RM-------------X- ----------------------------------------4 X 4-5RM
Microciclo 4------------------- 3 x 12-8RM------------X------- 3 x 12-8RM--------------X----------------- 3 x 12-8RM
Arthur Guerrini Monteiro (2009)
Seja qual for o modelo de periodização empregado, o importante é a integração entre as categorias para assim ter não só no trabalho de força, mas como na preparação física como um todo, uma sequência lógica de trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Na atualidade, podemos observar muitas controvérsias no que diz respeito ao treinamento de força no futebol, porém a literatura nos proporciona errar menos durante o planejamento, execução e monitoramento no desenvolvimento do trabalho.
O mais importante é a busca pela excelência através da aplicabilidade de estudos e a troca de informações direta ou indiretamente.
Sendo assim podemos concluir que tanto o planejamento quanto o desenvolvimento do trabalho de força nas categorias de base é extremamente complexo, porém de suma importância, e nós profissionais de futebol devemos tratá-lo com a mais alta responsabilidade.
Através desse estudo pudemos observar que vários são os fatores que interferem no planejamento e desenvolvimento do trabalho, por isso não há um consenso em relação à metodologia, tipos de periodização e exercícios, o que deve ocorrer de maneira efetiva é a conscientização de que o trabalho no futebol precisa ser encarado como um processo pedagógico, onde o planejamento e monitoramento serão indicativos de qualidade no trabalho desenvolvido e o que caracterizará uma sequência metodológica de trabalho é justamente a integração entre os responsáveis pela preparação física de cada categoria otimizando assim os ganhos em relação ao desenvolvimento fisiológico e motor do atleta, evitando assim a especialização precoce em atletas nas categorias de base e promovendo atletas com perfil fisiológico condizente com a categoria subsequente.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MONTEIRO. ARTUR G. ; AOKI. MARCELO S. ; EVANGELISTA ,ALEXANDRE L. ; ALVENO,DANIEL A. ; MONTEIRO,GIZELE A.; PIÇARRO,IVAN DA CRUZ; UGRINOWITSCH AND CARLOS. Non Linear periodization maximizes strength gains in split resistance training routines, 2009.
FLECK, S; J., KRAEMER, W. J. Designning Resistance Training
Programs.2ed.New York, Human Kinetics, 1997.
WEINECK, J. Futebol total. . São Paulo, Phorte, 2004
WEINECK, J. Treinamento ideal. 9ed. São Paulo, ManoLe, 1999
RHEA, MATTHEW. Treinamento de força para crianças, Phorte,2009
RHEA et al. A comparison of linear and daily undulating periodized programs with equated volume and intensity for strength. J. Strength Cond. Res. 16: 250-255. 2002.
ARRUDA, M.; Futebol: uma nova abordagem de preparação física e sua influência na dinâmica da alteração dos índices de força rápida e resistência de força em um macrociclo. Revista Treinamento Desportivo, v. 4, n.1, p.23-28, 1999.
GUEDES, D. P. Jr. Personal training na musculação. 2ed.Rio de Janeiro,NP,1997.
BADILLO, J.J.G., AYESTÁRAN, G. E. Fundamentos do treinamento de
Força: aplicação ao alto rendimento. 2ed.Porto Alegre,Artmed,2001.
BOMPA, T; CORNACCHIA, L. Treinamento de Força Consciente. Phorte, 2000
GUEDES D. P. Jr. Treinamento concorrente - uma abordagem atual. Centro de estudos de fisiologia do exercício,2004
RASO W. Determinando o peso na musculação, 2009
HEPANHOL J.E. Mudanças no desempenho da força explosiva após oito semansas de preparação com futebolistas da categoria sub-20,2006

Pré-temporada, um dos pilares para o sucesso em torneios de longa duração

Objetivo é a excelência na performance

O atual calendário do futebol brasileiro criou mais um grande desafio a ser vencido por todos os profissionais envolvidos dentro e fora das quatro linhas. O Campeonato Brasileiro da Série A deste ano termina no dia 05 de dezembro e os estaduais começam no início de 2011. O Campeonato carioca, por exemplo, tem sua rodada inicial marcada para o dia 19 de janeiro.
Na abordagem deste trabalho, o objetivo é demonstrar o planejamento e, principalmente, o plano de ação desses profissionais de áreas, realidades e recursos distintos, no desenvolvimento de base para um alto rendimento, através da análise da metodologia aplicada na pré-temporada 2009/10, onde na realidade ocorre a junção do conhecimento científico e empírico na busca de um resultado único - a excelência da performance.
Muitas etapas são cumpridas antes de sua execução no campo prático, tendo como início a definição da meta e filosofia do clube para a temporada. Forma-se, então, a equipe de profissionais que executarão o trabalho (comissão técnica e grupo de apoio).
A partir da definição do objetivo e filosofia de trabalho, inicia-se a fase de diagnóstico, que tem como foco central a produção de informações pluridisciplinares.
Posteriormente, através do suporte da Bioestatística e Informática, estas informações serão analisadas e o processo de transferência de métodos permitirá a interação entre cada disciplina no desenvolvimento de um plano de ação, cuja meta central é garantir a excelência na condição geral para o jogo.
Muitas outras disciplinas se apresentariam como meio facilitador na busca da melhor performance. Porém, o sucesso deste conceito depende não dá disciplina em si, mas sim, de cada indivíduo que irá manejar, transportar e materializar o produto da informação, formando uma unidade de conhecimento e criação a partir do coletivo soldado ao objetivo comum.
A estruturação da pré-temporada consiste na elaboração de um conjunto de ações que resultarão na pré-temporada propriamente dita. Veja, a seguir, como cada disciplina atuará nesta fase:
Fase 1 - Setor Administrativo

Definição de metas e filosofia do clube
Composição da equipe de trabalho (comissão técnica e equipe de apoio)
Fase 2 - Comissão técnica e equipe de apoio

Fase de diagnóstico pluridisciplinar, composto das seguintes disciplinas:
- Medicina (Ortopedia e Clínica), Fisioterapia e Odontologia: função - exploratória no campo das fisiopatologias, estabelecendo o perfil morfofuncional e possíveis anormalidades no estado da bioquímica sangüínea, que comprometeriam a capacidade de adaptação do atleta à carga de treinamento.
- Nutrição: função - determinar o perfil de ingestão dos micronutrientes e macronutrientes, principalmente no que diz respeito à sua quantidade e qualidade.
- Biomecânica: função - investigar falhas de execução dos gestos característicos do jogo, tipo de equipamento e material que será utilizado, minimizando fatores de risco para lesões e perda de performance.
- Fisiologia do Exercício: função - determinar o estado atual da aptidão física dos atletas, estabelecendo parâmetros quanto às principais variáveis fisiológicas solicitadas pela prática do jogo.
- Serviço Social: função - identificar as principais necessidades dos atletas e família, buscando imediata adaptação à cidade e ao clube, procurando dar tranqüilidade para um perfeito desenvolvimento da atividade profissional do atleta.
- Psicologia: função - determinar o perfil comportamental e emocional do atleta.
- Preparação Física: função - desenvolver o programa de preparação física. Visitar os locais de treinamento para adaptação e aplicação prática. Avaliar o estado dos equipamentos e materiais que serão utilizados na temporada.
- Técnico e assistente-técnico: função - diagnosticar as características gerais dos atletas. Função do técnico: planejar coordenar a pré-temporada; planejar e executar treinos técnicos e táticos. Função do assistente-técnico: organizar a logística da pré-temporada juntamente com o restante da organização técnica; organizar fichas para controle de treinamentos e planejamento da fase.
Fase 3 - Análise dos dados

Processamento de dados e análise interdisciplinar com suporte da Bioestatística e Informática no processo de gerenciamento das informações.
Fase 4 - Plano de ação

Desenvolvimento do plano de ação a partir da criação multifatorial e coletiva na busca do foco "excelência para a condição de jogo".
Fisiologia do Exercício:
- Fornece a base para aplicação dos dois princípios fundamentais do treinamento desportivo: sobrecarga e individualidade biológoica.
- Monitora a relação planejamento x resposta fisiológica do atleta, via controle de qualidade do treinamento.
Preparação física:
- Adaptação e aplicação dos conceitos do treinamento desportivo, garantindo a base para que o atleta possa ter condições de impor um ritmo de jogo intenso e com qualidades para um desenvolvimento efetivo para qualquer plano técnico e tático.
Nutrição:
- Garante um suprimento nutricional que atenda as necessidades específicas da sessão de treinamento.
- Aplicação de procedimentos visando à minimização do tempo de recuperação.
- Conscientização e orientação na busca de um melhor comportamento alimentar.
Medicina (Clínica e Ortopédica), Fisioterapia, Odontologia e Biomecânica
- Ação voltada para técnicas em reabilitação de lesões.
- Aplicação de programas de prevenção de lesões, do alongamento a técnicas alternativas.
- Monitoração da sobrecarga x qualidade de adaptação via controle hematológico e enzimático.
Psicologia:
- Monitoração dos níveis de ansiedade, motivação e estresse.
- Aplicação de procedimentos de integração do grupo.
- Aplicação de procedimentos de integração do grupo x filosofia de trabalho.
- Suporte na organização construtiva de uma relação interpessoal grupo x comissão técnica.
Setor Técnico: - Dar suporte na formação gradativa de um conceito técnico e tático que permita uma qualidade competitiva satisfatória.

 

DOPING SANGUÍNEO

Publicado em sex, 05/11/2010 - 15:07


Historicamente, diversas substâncias têm sido utilizadas na intenção de melhorar o desempenho esportivo. Sofisticados métodos de treinamento têm sido desenvolvidos a fim de aumentar o consumo máximo de oxigênio nas modalidades citadas. O doping sanguíneo pelo uso da eritropoetina, proibida por federações desportivas internacionais, é um dos que induzem o aumento na capacidade de realização de exercícios aeróbios. O sistema respiratório está regularmente envolvido nesta investigação provavelmente devido à sua localização central no corpo com várias conexões para o sistema cardiovascular. O aumento no consumo de oxigênio (VO2) em primeiro lugar depende da ventilação e das trocas respiratórias. Durante este processo, a tendência é que haja um aumento do VO2 máximo e um consequente prolongamento da sua disponibilidade com o objetivo de retardar os efeitos da fadiga.
Conhecida popularmente como EPO, a eritropoetina é um hormônio naturalmente produzido pelos rins e fígado (em menor quantidade) que tem como função principal regular a eritropoiese (produção de hemácias), sempre que o organismo exige uma necessidade maior de oxigênio. O desempenho atlético depende do bom funcionamento de vários órgãos, incluindo o sangue (Mercer & Densmore 2005). Gaudard e colegas (2003) descreveram que a oxigenação sanguínea é um fator fundamental, porém limitante, para a otimização da atividade muscular. O reforço no fornecimento de oxigênio aos tecidos está associado a uma substancial melhora no desempenho atlético, sobretudo nas modalidades de fundo, como o ciclismo e o atletismo, posto que aumenta o nível de glóbulos vermelhos no sangue, melhorando assim a troca de oxigênio e elevando a resistência ao exercício físico.
Além da eritropoetina, uma nova classe de substâncias pode representar o próximo passo do processo de doping sobre o VO2máx. Transportadores artificiais de oxigênio, como as soluções baseadas em hormônios (pode ser encontrado pelo nome de perfluorocarboneto -utilizado como carreador de oxigênio), são apontados por melhorar a oxigenação dos músculos. Soluções baseadas em hemoglobina melhoram a capacidade aeróbia em testes com animais e humanos. Tais substâncias têm efeitos colaterais potencialmente fatais, incluindo toxicidade renal, aumento da pressão arterial sistêmica e pulmonar e comprometimento do sistema imune. Os transportadores podem ser baseados em hemoglobinas, as quais podem ser detectadas em testes de rotina em laboratórios de análises clínicas. O perfluorocarboneto não é metabolizado pelo organismo, é exalado através do pulmão e pode ser medido por cromatografia (uma técnica de separação de misturas e identificação de seus componentes). Nenhum teste para esta substância tem sido executado até agora. Federações desportivas internacionais devem estar conscientes desta nova e emergente ameaça de doping (Schumacher et al 2001).
Como já mencionei anteriormente, para aumentar a capacidade aeróbia podem ser usadas duas alternativas: aumentar ou fornecer o transporte de oxigênio. Nesta configuração, a dopagem sanguínea é a prática de usar uma droga ilícita ou produto de sangue para melhorar o desempenho atlético. Com base nesta definição, o doping sanguíneo pode incluir: 1) transfusão de sangue (autólogo ou homólogo); 2) substâncias eritropoiese-estimulantes (eritropoetina humana recombinante (alfa, beta, ômega), darbepoetina-alfa, hematide); 3) substitutos de sangue (transportadores de oxigênio à base de hemoglobina, emulsões de perfluorocarboneto); 4) moduladores alostérico (enzimas alostéricas contêm uma região separada daquela em que se liga o substrato) de hemoglobina (RSR-13 e RSR-4); 5) doping genético (transfecção do gene da eritropoetina humana) e; 6) regulação gênica precursores dos fatores induzidos por hipóxia) (Borrione et al 2008).
Embora nem todas essas técnicas e possibilidades estejam ao alcance de todos os atletas, a busca pela melhora do desempenho é uma corrida contínua que muitas vezes se alia à tecnologia, conseguindo ultrapassar barreiras inimagináveis.
 


Referências:
Casali L, Pinchi G, Puxeddu E. Doping and respiratory system. Monaldi Arch Chest Dis. 2007 Mar;67(1):53-62.
Mercer KW, Densmore JJ. Hematologic disorders in the athlete. Clin Sports Med. 2005 Jul;24(3):599-621, ix.
Gaudard A, Varlet-Marie E, Bressolle F, Audran M. Drugs for increasing oxygen and their potential use in doping: a review. Sports Med. 2003;33(3):187-212.
Jelkmann W. Erythropoietin. J Endocrinol Invest. 2003 Sep;26(9):832-7.
Elliott S. Erythropoiesis-stimulating agents and other methods to enhance oxygen transport. Br J Pharmacol. 2008 Jun;154(3):529-41. Epub 2008 Mar 24. Review.
Schumacher YO, Schmid A, Dinkelmann S, Berg A, Northoff H. Artificial oxygen carriers--the new doping threat in endurance sport? Int J Sports Med. 2001 Nov;22(8):566-71.
Borrione P, Mastrone A, Salvo RA, Spaccamiglio A, Grasso L, Angeli A. Oxygen delivery enhancers: past, present, and future. J Endocrinol Invest. 2008 Feb;31(2):185-92.

 

HIPERTROFIA x INFLAMAÇÃO

Publicado em seg, 04/10/2010 - 10:38

A musculatura esquelética possui enorme capacidade de adaptar-se a diversos estímulos, tanto hormonais e nutricionais quanto mecânicos (Zanchi & Lancha-Jr 2008). De uma forma bastante interessante, a estimulação nutricional parece exercer efeitos agudos sobre a musculatura esquelética, não ocasionando aumento em sua massa, enquanto a estimulação mecânica (treinamento de força) é capaz de induzir uma resposta adaptativa em um prazo maior, acarretando no aumento da massa muscular na presença adequada de nutrientes (Miller 2007). Estes dados demonstram que o treinamento físico de força é capaz de adaptar a musculatura esquelética a remodelar-se positivamente (hipertrofia), aumentando a possibilidade de geração de força e potência muscular, enquanto que os estímulos nutricionais isoladamente parecem atuar muito mais na manutenção da massa muscular esquelética. O grande mistério é saber de que forma a estimulação mecânica produz tais modificações.
Na literatura científica, observa-se um grande volume de publicações indicando que a ativação de vias inflamatórias possui papel essencial na hipertrofia do músculo esquelético (Bondensen et al. 2006; Otis et al. 2005; Serrano et al. 2008). Tais efeitos parecem ser parcialmente mediados pela ativação de ciclo-oxigenases, (ex. COX-2), especialmente em músculos de contração lenta (ex. sóleo) (Bondensen et al. 2006). Estas ações são provavelmente, mas não unicamente, decorrentes da ativação de respostas de reparo induzindo ativação de células inflamatórias, as quais podem exercer influência sobre a ativação de células satélites e sobre o próprio tecido muscular esquelético. Por outro lado, já foi demonstrado que a musculatura esquelética sob contração é capaz de produzir citocinas (Steensberg et al. 2002), em especial a interleucina-6, a qual apresenta incremento circulante de até 100 vezes durante a atividade física (Pedersen & Febraio, 2008).
Essa ação mediada pela musculatura esquelética parece exercer funções autócrinas (nas próprias células em que foram produzidas), parácrinas (em células vizinhas) e até mesmo endócrinas (ação sistêmica). Recentemente, foi demonstrado que a interleucina-6 é capaz de ativar células satélite na musculatura esquelética, participando fundamentalmente do processo de hipertrofia (Serrano et al. 2008). Tal demonstração nos coloca frente a um paradoxo: para se obter hipertrofia muscular deve existir lesão? Devemos exercitar nossos músculos sempre a ponto de provocar significante nível de microtraumatismos? A resposta para tal questão ainda é dúbia.
Se a contração muscular por si é capaz de aumentar a produção de citocinas envolvidas no trofismo, então talvez a inflamação relacionada a sistemas de reparo não seja a única explicação para o fenômeno. Corroborando tal informação, observa-se na literatura científica relatos de hipertrofia muscular após a realização de um programa de treinamento de força, mesmo na ausência de dano muscular e respostas inflamatórias (LaStayo et al. 2007). Tais dados também foram recentemente observados por nosso grupo, onde constatamos que um programa de treinamento de força em ratos, com predominância de ações concêntricas foi capaz de aumentar a massa muscular dos músculos exercitados, sem no entanto acarretar em dano muscular ou mesmo incremento de parâmetros inflamatórios, os quais foram, na verdade, reduzidos (Zanchi et al, 2008). Por outro lado, ainda não se sabe se o dano muscular/inflamação não são fatores essenciais, mas sim potencializadores da hipertrofia muscular. Novos estudos com desenhos experimentais que proporcionem minimizar a resposta adaptativa da musculatura esquelética ao treinamento de força devem fornecer boas pistas sobre a importância do fenômeno.


Referências:
Bondesen BA, Mills ST, Pavlath GK. The COX-2 pathway regulates growth of atrophied muscle via multiple mechanisms. Am J Physiol Cell Physiol. 290: C1651-9, 2006
LaStayo P, McDonagh P, Lipovic D, Napoles P, Bartholomew A, Esser K, Lindstedt S. Elderly patients and high force resistance exercise--a descriptive report: can an anabolic, muscle growth response occur without muscle damage or inflammation? J Geriatr Phys Ther. 30: 128-34, 2007.
Miller BF. Human muscle protein synthesis after physical activity and feeding. Exerc Sport Sci Rev. 35: 50-55, 2007.
Otis JS, Burkholder TJ, Pavlath GK. Stretch-induced myoblast proliferation is dependent on the COX2 pathway. Cell Res. 310: 417-25, 2005.
Pedersen BK, Febbraio MA. Muscle as an endocrine organ: focus on muscle-derived interleukin-6. Physiol Rev. 88: 1379-406, 2008.
Serrano AL, Baeza-Raja B, Perdiguero E, Jardí M, Muñoz-Cánoves P. Interleukin-6 is an essential regulator of satellite cell-mediated skeletal muscle hypertrophy. Cell Metab. 7: 33-44, 2008.
Steensberg A, Keller C, Starkie RL, Osada T, Febbraio MA, Pedersen BK. IL-6 and TNF-alpha expression in, and release from, contracting human skeletal muscle. Am J Physiol Endocrinol Metab. 283: E1272-8, 2002.
Zanchi NE, Lancha AH Jr. Mechanical stimuli of skeletal muscle: implications on mTOR/p70s6k and protein synthesis. Eur J Appl Physiol. 102: 253-63, 2008
Zanchi NE, Lira FS, Seelaender M, Lancha-Jr. Experimental resistance training model based on food reward: Positive effects on skeletal muscle hypertrophy utilizing a low frequency resistance training protocol. Journal of Strenght and Conditioning Research, 2008 (2° revisão)

 

 

 

QUANDO TREINAR E QUANDO DESCANSAR

 O aumento da performance durante o treinamento não é linear. De fato, imediatamente após um treino forte acontece decréscimo de performance. No período pós-exercício acontece a recuperação das reservas energéticas e regeneração do músculo, que ocorre no nível molecular com ressíntese de proteínas danificadas durante a contração muscular e no nível celular, quando o esforço em excesso provoca microlesões especialmente durante o overtraining.
Um problema relevante na ciência do exercício é quantificar a intensidade do treinamento, já que cada indivíduo tem uma resposta peculiar ao estímulo a que é submetido. Após um período médio de treinamento, as adaptações causadas por vários ciclos exercício-recuperação geram um aumento geral da performance. A este fenômeno é dado o nome de supercompensação. E para que isso aconteça da maneira esperada, a intensidade do exercício deve ser proporcional ao tempo de recuperação. Quanto mais preciso for o instrumento para aferir a intensidade do treinamento, menos conservador pode ser o mesmo. Por isso, a busca por maneiras complementares para quantificar a intensidade do exercício continua. Esta quantificação é fundamental para a avaliação da relação custo-benefício do exercício.
Provavelmente a maneira mais utilizada para quantificar a intensidade do treinamento é o monitoramento da frequência cardíaca (FC). Um método extremamente simples e rápido, que pode ser associado à tecnologia de aquisição de dados ou simplesmente uma medição direta de pulso. A medição da FC não causa qualquer desconforto ao sujeito, e é utilizada há algumas décadas, com eficiência comprovada como uma ferramenta de uso diário.
Outro meio difundido para a aferição da intensidade do exercício é a medida da concentração de lactato (Lct) no sangue. Os lactímetros medem a lactatemia (lactato no sangue) em campo. É importante lembrar que o Lct sanguíneo também não é um metabólito medido exclusivo do músculo esquelético, portanto o íon no sangue pode ser oriundo de outros tecidos, o que o torna um indicador impreciso.
Atualmente, para quantificar a intensidade do treinamento, os cientistas do exercício vêm propondo o uso de marcadores de microlesão muscular. O citoplasma de uma célula é composto de diversos tipos de proteínas dentre outras estruturas. Durante o exercício, ocorre o rompimento natural de várias células musculares e o seu conteúdo é liberado para o interstício celular e, consequentemente, na corrente sanguínea. Quanto maior a concentração dessas proteínas na corrente sanguínea, maior a intensidade do exercício.
Nós, do Laboratório de Bioquímica de Proteínas (LBP) vimos trabalhando com enzimas marcadoras de lesão muscular há aproximadamente dez anos. Durante esse trabalho, desenvolvemos um protocolo de testes baseado na análise de diferentes enzimas e proteínas plasmáticas com o objetivo de quantificar diferencialmente as microlesões musculares, permitindo a prescrição científica do treinamento. A partir da interpretação desses dados, somos capazes de inferir na origem destas enzimas e proteínas, descartando contribuições de origem hepática ou cardíaca.
Dessa maneira, temos uma ferramenta precisa para quantificar a intensidade do treinamento.
No presente momento no LBP está iniciando um projeto de pesquisa e desenvolvimento com parceiros privados e de outras universidades, para a miniaturização destas quantificações permitindo a análise em campo.